II – ABERTURA CORONÁRIA (CIRURGIA DE ACESSO)
2.1 Definições
2.1.1 Abertura coronária
É o ato operatório pelo qual se abre (se expõe) a câmara pulpar. Tem o objetivo inicial expor o tamanho e a
forma da câmara pulpar. Permite o acesso ao interior do dente através da remoção do teto da Câmara pulpar
através da realização de desgastes compensatórios e de extensões complementares (formas de conveniência),
com a finalidade de obter uma abordagem direta, ampla e sem obstáculos à entrada ou às entradas dos canais radiculares.
2.1.2 Desgaste compensatório
Remoção das interferências dentinárias que impedem o acesso franco e direto à entrada ou Às entradas dos
canais radiculares. Trata-se da remoção mecânico/manual do ombro palatino (lingual) nos dentes anteriores
como também das convexidades das paredes da câmara pulpar, em molares, principalmente nas mesiais.
2.1.3 Forma de conveniência
Trata-se do contorno final da abertura coronária por meio da realização de desgastes mecânicos, tais como a
divergência para oclusal das paredes da abertura coronária, particularmente das mesiais de molares. Inclui
també a remoção da vertente lingual da cúspide vestibular dos pré-molares inferiores para obtenção de um
acesso direto ao canal radicular. A forma de conveniência é regida pelos seguintes objetivos:
• Permitir ampla visualização do assoalho da câmara pulpar para localização das entradas dos canais
radiculares;
• Facilitar o acesso direto, em linha reta, e a exploração do canal ou canais radiculares;
• Evitar que os instrumentos penetrem encurvados no terço cervical e médio dos canais radiculares
atresiados e curvos, principalmente de molares. Evitar o risco de fratura dos instrumentos
endodonticos.
2.2 Procedimentos prévios para a realização da abertura coronária
I. Mentalizar a cavidade pulpar do dente à ser submetido ao tratamento de canal radicular.
a. Relembrar os detalhes da anatomia interna;
b. Complementar seus conhecimentos anatômicos prévios com imagens radiográficas ou
digitalizadas;
c. Relembrar a localização das entradas dos canais radiculares;
II. Organizar adequadamente o instrumental a ser empregado;
III. Remover totalmente o tecido cariado, restaurações de amálgama e resina, invaginações gengivais e
pólipos pulpares;
IV. Isolamento adequado, somente da unidade dental que vai ser submetida ao tratamento endodôntico,
com o emprego do isolamento absoluto;
V. Relembrar e confirmar radiograficamente os fatores fisiológicos e/ou patológicos que podem
determinar alterações morfológicas na anatomia interna normal do dente à ser submetido ao
tratamento e que podem influir na realização de uma abertura coronária convencional;
VI. Reconstruções coronárias (restaurações) provisórias.
2.3 Princípios fundamentais que regem a abertura coronária
• Toda abertura coronária deverá ser efetuada de maneira que nos ofereça por meio de linha reta um
acesso direto ao canal radicular;
• O limite da abertura coronária deverá incluir todos os cornos pulpares, saliências e retenções do teto
da câmara pulpar.
• A anatomia da parede cervical ou do assoalho da câmara pulpar nunca deve ser alterada, uma vez que
a entrada do canal radicular, de forma afunilada, lisa e polida em muito auxilia a sua localização.
• Inclinação das raízes:
o NO SENTIDO V-L – raízes inclinadas para a lingual; com exceção a partir do segundo pré-
molar inferior, a raiz está para vestibular e coroa para a lingual;
o No sentido M-D – raízes inclinadas para a distal;
o Exceção: primeiro molar superior, incisivo central inferior e incisivo lateral inferir; raízes são
paralelas a linha mediana; segundo molar superior inclinada para mesial;
2.4 Abertura coronária
• Abertura coronária: ato operatório pelo qual se expõe a câmara pulpar;
o Objetivo: remoção do teto da câmara pulpar; desgastes compensatórios; forma de
conveniência;
• Desgaste compensatório: ato operatório realizado na câmara pulpar, através do qual se remove as
interferências dentinárias que impedem o acesso franco e direto à entrada dos canais radiculares.
• Forma de conveniência: ato operatório que tem por finalidade efetuar o contorno final da abertura
coronária, por meio da realização de desgastes mecânicos;
o Objetivos: ampla visualização do assoalho da câmara pulpar, facilitando a localização das
entradas; facilitar acesso direto, e a exploração dos canais.
• Etapas da abertura coronária:
o Zonas de eleição
� Fase inicial da abertura;
� Desgaste da superfície de esmalte até a dentina;
� Acesso direto e retilíneo à câmara pulpar e posteriormente ao canal radicular;
� Anteriores: 2 mm acima do cíngulo;
� Posteriores: sulco central da face oclusal;
o Direção de trepanação
� Fase que permite atingir o interior da câmara pulpar;
� Dentes anteriores: inclinação com cerca de 45º;
� Dentes posteriores: ao longo eixo do dente ou perpendicular ao assoalho;
o Forma de contorno
� Acesso à entrada e ao interior dos canais radiculares;
� Movimentos de dentro para fora com broca de ponta inativa;
� Tamanho da câmara pulpar;
� Forma da câmara pulpar;
� Número de canais e suas curvaturas;
2.5 Anatomia das cavidades pulpares dos diferentes grupos de dentes
2.5.1 Dentes anteriores
2.5.1.1 Incisivo central superior
• Raiz única e canal único;
• Canal reto, curva discreta no terço apical para V ou D;
• Zona de eleição: face P, próximo ao cíngulo;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1012 (haste longa), 1013 (HL);
• Direção trepanação: perpendicular para longo eixo do dente;
• Forma de contorno: tronco cônica de ponta inativa (endo-Z); triangular com base par Incisal, 2082,
3080, 3081;
• Forma de conveniência: remoção ombro lingual; Batt. 12, 14.
2.5.1.2 Incisivo lateral superior
• Raiz única, canal único, fenda (Dens in dente);
• Zona de eleição: face P, próximo ao cíngulo;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1011 (haste longa), 1012 (HL);
• Direção trepanação: perpendicular para longo eixo do dente;
• Forma de contorno: triangular com base par Incisal, 2082, 3080, 3081; tronco cônica de ponta inativa
(endo-Z);
• Forma de conveniência: remoção ombro lingual; Batt. 12, 14.
• Cinco graus na distal e vinte graus na palatina;
2.5.1.3 Canino superior
• Raiz única (mais longa), canal único (ápice bastante afilado);
• Zona de eleição: face P, próximo ao cíngulo;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1011 (haste longa), 1012 (HL), 1013, 1014;
• Direção trepanação: perpendicular para longo eixo do dente;
• Forma de contorno: ovalada, losangular, 3080, 3081;
• Forma de conveniência: remoção ombro lingual; Batt. 12, 14.
• Pode ter um ombro palatino que forma um embolsamento mais para a apical;
2.5.1.4 Incisivo central inferior
• Raiz única, canal único, canal reto, curva discreta no terço apical para vestibular ou distal;
• Zona de eleição: face P, próximo ao cíngulo;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1011 (haste longa)
• Direção trepanação: perpendicular para longo eixo do dente;
• Forma de contorno: triangular com base par Incisal, 2082, tronco cônica de ponta inativa (endo-Z);
• Forma de conveniência: remoção ombro lingual; Batt. 12, 14.
2.5.1.5 Incisivo lateral inferior
• Raiz única e canal único. Incidência de maior bifurcações;
• Zona de eleição: face L, próximo ao cíngulo;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1011 (haste longa);
• Direção trepanação: perpendicular para longo eixo do dente;
• Forma de contorno: triangular com base par Incisal, 2082, 3080, tronco cônica de ponta inativa (endo-
Z);
• Forma de conveniência: remoção ombro lingual; Batt. 12, 14.
2.5.1.6 Canino inferior
• Raiz única e com presença de bifurcações; canal único;
• Variação do ângulo horizontal;
o Técnica de Clarck: o que está por lingual acompanha a variação do RX;
• Zona de eleição: face P, próximo ao cíngulo;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1012 (HL), 10 13, 1014
• Direção trepanação: perpendicular para longo eixo do dente;
• Forma de contorno: losangular, chama de vela, triangular com base para a incisal, 3080, 3081, 4082;
tronco cônica de ponta inativa (endo-Z);
• Forma de conveniência: remoção ombro lingual; Batt. 12, 14.
• Cinco graus na distal e vinte graus na palatina;
2.5.2 Dentes posteriores
2.5.2.1 Primeiro pré-molar superior
• Raiz: bifurada V e L;
• Canal: 02. (V e L);
• Zona de eleição: face O, centro do sulco mesio-distal;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1012 (HL), 10 13, 1014;
• Direção trepanação: longo eixo do dente, geralmente inclinando para a palatina;
• Forma de contorno: ovalada, paredes proximais levemente expulsivas. 3000, 3081, 4082
• Forma de conveniência: preparo cervical – limas, brocas de Gates 1, 2, 3, 4 e/ou Batt 12, 14.
2.5.2.2 Segundo pré-molar superior
• Raiz: fusionada, frequência de bifurcação menor no terço médio apical;
• Canal: achatamento maior M-D 02 canais;
• Zona de eleição: face O, centro do sulco mesio-distal;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1012 (HL), 10 13, 1014;
• Direção trepanação: longo eixo do dente, geralmente inclinando para a palatina;
• Forma de contorno: ovalada, paredes proximais levemente expulsivas. 3000, 3081, 4082
• Forma de conveniência: preparo cervical – limas, brocas de Gates 1, 2, 3, 4 e/ou Batt 12, 14.
2.5.2.3 Primeiro pré-molar inferior
• Raiz única
• Canal: 02, normalmente bifurca 1/3 medio (V e L) pode ocorrer trifurcação;
• Zona de eleição: face O, centro do sulco mesio-distal;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1012 (HL), 10 13, 1014;
• Direção trepanação: longo eixo do dente, geralmente inclinando para a palatina;
• Forma de contorno: ovalada, paredes proximais levemente expulsivas. 3000, 3081, 4082
• Forma de conveniência: preparo cervical – limas, brocas de Gates 1, 2, 3, 4 e/ou Batt 12, 14.
2.5.2.4 Segundo pré-molar inferior
• Raiz única
• Canal: 01; é rara a bifurcação câmara pulpar maior que o 1PMI;
• Zona de eleição: face O, centro do sulco mesio-distal;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1012 (HL), 10 13, 1014;
• Direção trepanação: longo eixo do dente, geralmente inclinando para a palatina;
• Forma de contorno: ovalada, paredes proximais levemente expulsivas. 3000, 3081, 4082
• Forma de conveniência: preparo cervical – limas, brocas de Gates 1, 2, 3, 4 e/ou Batt 12, 14.
2.5.2.5 Primeiro molar superior
• Raiz: normalmente 3, 02 V e 01 P;
• Canal: incidência maior de 04 canais;
o 4ºcanal ligado ao canal mesial, entre mesial e palatino;
o Raiz mesio-vestibular: apresenta forma de vírgula, achatamento M-D, ocasionando na maioria
das vezes o aparecimento do 4º canal;
o Raiz disto-vestibular: geralmente apresenta 01 canal, onde a embocadura esta a 2 mm do
canal MV;
o Raiz palatina: geralmente apresenta 01 canal achatado no sentido V-L no M-D;
o Apresenta curvatura para a V na maioria das vezes;
o PROCURAR PRIMEIRO O CANAL PALATINO, inclinar fresa para o palatino;
• Zona de eleição: sulco mesio-distal;
• Direção de trepanação: fresa paralela ao longo eixo do dente com inclinação para a palatina;
• Forma de contorno: triangular ou retangular trapezoidal, dependendo da existência ou não de um
quarto canal mesio-palatino;
• Fresas: esférica para a abertura; tronco cônica de ponta inativa;
2.5.2.6 Segundo molar superior:
• Raiz: nomalmente três; 02 V e 01P (geralmente fusionadas);
• Canal: incidência menor de 04 canais, camara pulpar semelhante a do 1MS;
• Zona de eleição: sulco mesio distal
• Direção de trepanação: fresa paralela ao longo eixo do dente com inclinação para a palatina;
• Forma de contorno: triangular ou retangular trapezoidal, dependendo da existência ou não de um
quarto canal mesio palatino;
• Fresas: esférica para a abertura; tronco cônica de ponta inativa;
2.5.2.7 Primeiro Molar inferior
• Raiz: normalmente duas, 01 M e 01 D, pode ocorrer raiz suplementar;
• Canal: normalmente 03 (02 mesial [mesio vestibular e mesio distal] e 01 distal);
o Quando tiver um quarto canal, ele estará no canal distal;
o Disto vestibular, disto lingual, mesio vestibular, mesio distal;
o Achar o corno pulpar distal primeiro;
• Zona de eleição: face O, centro do sulco mesio-distal;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1012 (HL), 10 13, 1014;
• Direção trepanação: longo eixo do dente, geralmente inclinando para a lingual;
• Forma de contorno: ovalada, paredes proximais levemente expulsivas. 3000, 3081, 4082
• Forma de conveniência: preparo cervical – limas, brocas de Gates 1, 2, 3, 4 e/ou Batt 12, 14.
2.5.2.8 Segundo molar inferior
• Raiz: normalmente duas, 01 mesial e 01 distal;
• Canal: normalmente 03 canais. Pode ocorrer fusionamento;
• Zona de eleição: face O, centro do sulco mesio-distal;
• Tipo de broca: esférica diamantada 1012 (HL), 10 13, 1014;
• Direção trepanação: longo eixo do dente, geralmente inclinando para a lingual;
• Forma de contorno: ovalada, paredes proximais levemente expulsivas. 3000, 3081, 4082
• Forma de conveniência: preparo cervical – limas, brocas de Gates 1, 2, 3, 4 e/ou Batt 12, 14.
2.6 Erros nas aberturas coronárias
2.6.1 Dentes anteriores superiores e inferiores
• Degrau nas paredes da câmara pulpar por não serem observadas as inclinaões do longo eixo dos
dentes;
• Perfuração na parede vestibular, e nas paredes proximais, por desconsiderar as inclinações dos dentes
e pelo uso de brocas indevidas durante a direção da trepanação;
• Remoção excessiva da estrutura dental, levando ao enfraquecimento da coroa;
• Abertura pequena, dificultando a penetração e atuação dos instrumentos no interior dos canais
radiculares;
• Persistência de cornos pulpares responsáveis pelo escurecimento da coroa dentária;
• Abertura pela face proximal, dificultando a exploração e a limpeza do canal radicular;
2.6.2 Pré-molares superiores e inferiores
• Abertura coronária insuficiente, expondo somente os cornos pulpares;
• Formação de degrau nas paredes circundantes, devido a falta de observação da inclinação dos dentes;
• Deformação do assoalho da câmara pulpar;
• Perfurações nas paredes circundantes;
• Perfurações no assoalho da câmara pulpar;
2.5.3 Molares superiores e inferiores
• Remoção excessiva da estrutura dentária;
• Deformação do assoalho da câmara pulpar;
• Formação de degrau na entrada dos canais radiculares;
• Perfuração do assoalho;
• Falta de desgaste compensatório;
• Abertura em profundidade, expondo somente os cornos pulpares.
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