domingo, 24 de abril de 2016

Ácidos: Características e propriedades

Este texto apresenta algumas contribuições para o estudo dos ácidos, destacando características, propriedades e algumas reações químicas.
Ao buscarmos uma definição preliminar sobre o termo ácido, recorrendo para isto a um dicionário, podemos nos deparar com uma ampla lista de terminologias e definições paralelas. Tal análise preliminar deixaria, sem dúvida, qualquer estudante confuso e perplexo com a gama de informações.
Entretanto, o caráter experimental da química permite-nos conhecer melhor as características dessas substâncias analisando conceitos e definições a respeito do assunto.
A palavra "ácido" é originária do termo em latim acidu, que significa "azedo". Esta talvez seja uma das características mais facilmente encontrada nas soluções de ácidos. A evolução do termo tem nos permitido elaborar conceitos mais amplos e úteis.

Teorias

Três teorias se destacaram para a definição destes compostos.
Em 1887, o químico sueco Svante Arrhenius propôs o conceito de dissociação. De acordo com ele, um ácido é uma substância que, dissociado em água, libera íons de hidrogênio (por outro lado, apenas explorando a proposição de Arrhenius, umabase seria uma substância capaz de liberar íons hidroxila quando em solução). Por exemplo:
  • (Esquema 1)
Íons hidrogênio reagem com a água para formar íons hidrônio:
 
Embora esta seja a representação mais correta da presença de íons hidrogênio em água, para simplificar, usaremos o termo H+ neste texto.
Em 1923, Bronsted, na Dinamarca, e Lowry, na Inglaterra, agindo independentemente, sugeriram uma definição bastante interessante. Na definição de Bronsted-Lowry, ácido é uma espécie que tende a dar um próton, enquanto uma base seria uma espécie capaz de receber o próton. Esta definição permite entender, por exemplo, a atuação da água na reação abaixo:
 
  • (Esquema 2)
No mesmo ano em que Bronsted e Lowry apresentavam seus trabalhos, o químico norte-americano G. N. Lewis fez sua proposição. De acordo com Lewis, ácido é uma espécie com um orbital vazio capaz de receber um par de elétrons, enquanto uma base seria uma espécie capaz de doar um par de elétrons para formar uma ligação covalente coordenada. Assim, o ácido seria um receptor de par de elétrons.

Propriedades

Tais definições nos ajudarão a entender uma série de propriedades dos ácidos. Note que na dissociação apresentada no Esquema 1 são fornecidos íons à solução. Sempre que uma espécie química apresenta tal comportamento, definimos tais solutos como eletrólitos. Vale lembrar que uma solução de um eletrólito conduzirá melhor a eletricidade que o solvente puro.
É importante realizarmos tal comentário, deixando claro que somente quando os íons provenientes do ácido estiverem presentes é que temos uma solução condutora. O exemplo citado acima deixa claro que apesar de o HCl ser um composto molecular, trata-se de um eletrólito. (Sugestão: ler o texto Soluções aquosas - Estudo qualitativo e quantitativo das concentrações.)
Para o caso dos ácidos, poderíamos afirmar que quando o ácido está presente somente como íons em solução (completamente dissociado, por exemplo, HCl), tem-se um eletrólito forte. Quando a solução é constituída por íons e moléculas não-dissociadas (por exemplo, HF) trata-se de um eletrólito fraco. Vale ressaltar que esta nossa aproximação foi construída considerando-se soluções não muito concentradas.
A seguir, enumeramos alguns ácidos comuns.

 

TABELA 1 - ÁCIDOS COMUNS

Ácido forte (eletrólito forte)
Ácido fraco (eletrólito fraco)
HCl - Ácido clorídrico
H3PO4 - Ácido fosfórico
HBr - Ácido bromídrico
H2CO- Ácido carbônico
HI - Ácido iodídrico
CH3CO2H - Ácido acético
HNO3 - Ácido nítrico
H2C2O4 - Ácido oxálico
HClO4 - Ácido perclórico
C4H6O6 - Ácido tartárico
H2SO4 - Ácido sulfúrico
C6H8O7 - Ácido cítrico
 
C9H8O4 - Aspirina
  • Fonte: KOTZ; TREICHEL Jr., 2006.

Classificações

Dos exemplos citados na tabela, destacaremos alguns para introduzir algumas classificações.
É fácil perceber que o átomo de hidrogênio é comum a todas as espécies citadas acima. Contudo, a presença do átomo de oxigênio não é geral. Ácidos que apresentam o átomo de oxigênio na fórmula são classificados como ácidos oxigenados, enquanto que aqueles que não apresentam o oxigênio são chamados de ácidos não-oxigenados ou hidrácidos.
Talvez a propriedade mais conhecida dos ácidos esteja associada à sua reação com hidróxidos metálicos, formando sal e água. Alguns exemplos são apresentados a seguir:
  • (Esquema 3)
Tais reações são conhecidas como reações de neutralização.
Além destes exemplos, é possível estender tais reações para o campo da química orgânica, analisando a reação entre ácidos e alguns corantes orgânicos.
Alguns corantes podem sofrer protonação (receptor de H+) ou desprotonação (doador de H+) de grupos funcionais específicos, geralmente sem que ocorra (mas não necessariamente) a destruição da molécula. Trata-se de um princípio químico, que permite acompanhar a mudança de cor do corante, dependendo das características ácidas ou básicas do meio.
Esses compostos são conhecidos como indicadores, bastante utilizados em procedimentos analíticos de titulação. Por exemplo, a fenolftaleína é um composto que apresenta características distintas quando na presença de soluções de ácidos ou bases. Quando em meio básico, esse composto apresenta-se na coloração rosa, enquanto que em meio ácido torna-se incolor.
Talvez a compreensão fique mais clara se analisarmos o comportamento dos indicadores por meio da escala de pH. Neste texto, a escala será apenas apresentada, sem discussões sobre sua construção e potencialidades de análise:
 
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Ácido neutro Básico
  • Esquema 4: Escala simplificada de PH
Um dos indicadores mais comuns para os ácidos é o tornassol. O tornassol azul muda para vermelho em presença de um ácido. Outros indicadores podem ser citados, mas vale ressaltar que suas características serão dependentes do pH de viragem, ou seja, a simples mudança de cor não será suficiente para classificar a espécie como ácida.

 

TABELA 2 - ALGUNS INDICADORES ÁCIDO-BASE

Indicador
Transição de cor
pH de viragem
Violeta de metilaAmarelo - azul0 - 1,6
Azul de bromofenolAmarelo - azul3,0 - 4,6
Alaranjado de metilaVermelho - amarelo3,1 - 4,4
Azul de bromotimolAmarelo - azul6,0 - 7,6
TimolftaleínaIncolor - azul9,4 - 10,6
Amarelo de alizarinaAmarelo - vermelho10,1 - 12,0
  • Fonte: BACAN et.al., 1979.

Ácidos e metais

Para encerrar as discussões propostas neste texto, finalizamos com a reação dos ácidos com metais. A série de atividade dos metais (Tabela 3) apresenta os metais em ordem decrescente de atividade. O hidrogênio foi propositalmente incluído na série, para que possamos compreender a reação dos ácidos com metais. Qualquer metal acima do hidrogênio nessa série deslocará o hidrogênio de um ácido (SACKHEIM; LEHMAN, 2001). Os metais superiores seriam aqueles que promoveriam tal reação com maior facilidade:

 

TABELA 3 - SÉRIE DE ATIVIDADE DOS METAIS

K
Potássio
Ca
Cálcio
Na
Sódio
Mg
Magnésio
Al
Alumínio
Zn
Zinco
Fe
Ferro
Sn
Estanho
Pb
Chumbo
H
Hidrogênio
Cu
Cobre
Hg
Mercúrio
Ag
Prata
Au
Ouro
Para qualquer metal acima do hidrogênio, teríamos reação com ácidos, produzindo um sal e hidrogênio gasoso. Por exemplo:
  • (Esquema 5)
Note porque os ácidos não podem ser armazenados em recipientes desses metais ativos. Materiais cirúrgicos ou dentários, geralmente de aço inoxidável, não podem ser deixados na presença de ácidos, uma vez que estes materiais contêm ferro.
Já os metais abaixo do hidrogênio na Tabela 3, não são capazes de substituir o hidrogênio no ácido. Ou seja, podemos esperar que a mistura de cobre com ácido clorídrico não produza hidrogênio, e isso realmente ocorre:
  • (Esquema 6)
É importante ressaltar que o fato de o cobre não reagir com ácido clorídrico não generaliza seu comportamento frente ao ataque ácido. Embora não liberem hidrogênio, eles reagem com ácidos oxidantes para formar produtos de redução dos ácidos oxidantes, os sais do respectivo metal e água:
  • (Esquema 7)
A reatividade (espontânea) de certo metal com ácido (H+) oxidante para liberar H é determinada pela posição do metal na série eletromotriz. Quanto mais eletropositivo e combinado com condições extremas, que combinem temperatura, superfície de contato, concentração do ácido, dentre outras, podemos interferir na velocidade da reação entre as espécies, como destacamos a seguir:
  • (Esquema 8)

Curiosidades

Ácidos fortes atacam as roupas e a pele. Fibras vegetais (algodão, linho), animais (seda, lã) e sintéticas são rapidamente destruídas por ácidos fortes. O amarelamento da pele em contato com ácido nítrico é um teste específico para proteínas.
Áreas da pele atacadas por ácido devem ser lavadas com água em abundância. Em seguida, devem ser tratadas com bicarbonato de sódio, para neutralização de qualquer porção de ácido remanescente. Já ácidos diluídos e/ou fracos, podem ser até utilizados no interior do corpo.
A absorção de um medicamento está bastante associada ao seu caráter eletrolítico. Em geral, os medicamentos são mais bem absorvidos através do trato gastrointestinal quando se apresentam na forma não-ionizada. Assim, medicamentos fracamente ácidos serão mantidos, na forma não-ionizada, no estômago, fracas ao seu pH ácido, facilitando sua absorção.
Já um medicamento fracamente básico será bastante ionizado no estômago e, portanto, pouco absorvido. Um exemplo seria a aspirina (ácido acetilsalicílico). Quando em solução ácida, como no estômago, ela se apresenta mais de 90% na forma não ionizada; enquanto que em solução neutra, apenas 1%. Assim, podemos concluir que ela seria facilmente absorvida no estômago (pH próximo de 2) e mais lentamente no intestino delgado, onde o pH é superior a 7.
Bibliografia:
  • BACAN, N. et al. Química analítica quantitativa elementar. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1979.
  • KOTZ, J. C.; TREICHEL Jr, P. M. Química geral e reações químicas. 5ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 2006.
  • RUSSEL, J. B. Química geral. 2ª ed. São Paulo: Makron Books, 1994. V.1.
  • SACKHEIM, G. I.; LEHMAN, D. D. Química e bioquímica para ciências biomédicas. 8ª ed. São Paulo: Manole, 2001.

Condutividade, eletrólitos e eletrólise

Objetivos

1) Compreender como pode haver condução de corrente elétrica em soluções aquosas
2) Compreender como se pode provar que a água é feita de oxigênio e hidrogênio; e como a separação desses elementos exige energia.
3) Entender (ou relembrar) algumas noções de eletroquímica, antes de trabalhar com o tema aqui proposto ou com o artigo Eletrólitos - Soluções que permitem a passagem de corrente elétrica.
4) Perceber, de um ponto de vista histórico, como a invenção da pilha elétrica permitiu o avanço na separação de elementos químicos.

Ponto de partida

Os alunos devem estar familiarizados com a idéia de estrutura atômica (átomos, elétrons, íons). O nível em que a demonstração será trabalhada depende da turma - alunos de 1o ano podem compreender perfeitamente os fenômenos, mas não é comum se falar em potencial de oxidação ou redução. Alunos de 2o ano, por já terem visto mais físico-química, podem ter um maior reforço na teoria.
Para esta aula, é necessária uma fonte de corrente contínua de pelo menos 3V - podem ser duas pilhas de 1,5V em série, ou uma pilha de 9 ou 12 V, ou, ainda, uma fonte de algum aparelho eletrônico. É possível também usar a tensão da rede elétrica, usando um diodo e uma lâmpada como resistência e como indicador de corrente. Mas só monte esse sistema se tiver prática com eletricidade, pois podem ocorrer choques perigosos. Para auxiliar nas montagens, fale com um colega de Física - é possível que ele se interesse por explicar os circuitos no seu espaço de aula.
Uma possível montagem:
 
V1 é a pilha ou fonte, R1 é uma resistência e Led1 pode ser um led ou uma lâmpada. Os dois terminais que "sobram" no esquema devem ser usados para testar a condutividade de materiais ou soluções.
Algumas possibilidades:
V1Rled 1comentário
Pilhas, somando 3V100 ΩQualquer.Só serve para testar condutividade. Pode ser montado pelos alunos.
Pilhas ou fonte, somando mais de 4,5 a 12V220 a 600 ΩQualquer. Se for usada uma lâmpada de lanterna adequada, o resistor pode ser retirado.Serve para teste de condutividade e para eletrólise. Pode ser montado pelos alunos.
Corrente elétrica (110V)Use uma lâmpada de 15W.Substituir por um diodo retificador.Use luvas de borracha. O perigo aqui não é o curto-circuito (que acende a lâmpada), mas o choque que você pode levar se não tiver cuidado. Não deve ser montado ou usado pelos alunos, apenas pelo professor.
Essa mesma montagem poderá ser usada mais à frente, para a aula de Eletrólise e eletrodeposição.

Estratégias

1) Comente com os alunos que o primeiro gerador de eletricidade capaz de funcionamento contínuo foi a Pilha de Volta (desenvolvida, em torno de 1800, por Alessandro Volta, físico italiano). Antes dessa pilha, a única eletricidade disponível era a estática.
2) Comente que a corrente elétrica é um movimento ordenado de cargas elétricas, e que pilhas (e outros geradores) são capazes de induzir a formação de uma corrente elétrica em um circuito - por exemplo, através de condutores e de uma lâmpada.
3) Teste com os alunos vários materiais (metais, madeira, grafite), para que eles verifiquem em que casos há condução de corrente elétrica.
4) Peça aos alunos que expliquem como se dá a condução de corrente elétrica em metais e no grafite, por exemplo. Isso pode ser feito através de um desenho.
5) Peça aos alunos, agora, que expliquem porque alguns materiais não conduzem corrente. O que eles têm de diferente (ou o que não têm, em relação aos metais)? Essa é uma boa oportunidade para introduzir ou relembrar o conceito de ligação metálica.
6) Finalmente, comente que em soluções aquosas não há elétrons livres. Portanto, soluções aquosas conduzem corrente? Teste com os alunos: a) água pura; b) água com uma pequena quantidade de álcool; e c) água com adição de uma pequena quantidade de hidróxido, carbonato ou bicarbonato de sódio. Eles verificarão que a água pura ou com álcool realmente não conduz corrente, mas que a água com o composto iônico conduz. Cabe aos alunos imaginar por quê.
7) Explique aos alunos que compostos iônicos dissociam-se em água, e os íons livres possuem mobilidade suficiente para fazer o papel que os elétrons fazem nos metais. Isso pode ser difícil de entender. Por esse motivo, os experimentos devem ser repetidos, para que a evidência "convença" os alunos. Cátions devem ir para o terminal negativo - e ânions para o positivo.
8) Complete a aula trabalhando com o texto ou com exercícios adequados do livro/apostila adotado. Lembre aos alunos que eletrólitos (compostos que formam soluções com íons) não são apenas os compostos iônicos, mas também os covalentes capazes de ionização, como os ácidos.
9) Para finalizar, use os últimos 10 minutos de aula para perguntar: O que acontece quando os íons chegam ao terminal + ou ao terminal -? Essa é uma excelente pergunta, que deve ser retomada em detalhes em uma aula futura. Agora, basta comentar que ocorre eletrólise - deixe os terminais mergulhados por algum tempo no líquido, de forma que se possa observar as bolhas de O2 e H2 em cada terminal. Essa técnica usada para decompor substâncias não pôde ser usada antes da Pilha de Volta; depois de 1800, vários elementos foram preparados usando eletrólise.
Autor: Júlio Cesar de Carvalho